Sonhos Platônicos

domingo, fevereiro 18, 2007

Dormir, sonhar, pensar.


No jardim o botão se abre repentinamente. A flor nasce bela, destacando-se no meio da noite e seu perfume alcança as estrelas. A morte virá ao nascer do Sol e, da mesma forma que veio, a flor desaparecerá: Um labirinto de esquecimento do qual só voltará a encontrar a saída num tempo pré-determinado somente a ela pertencente. O quando é para sempre imprevisível, indeterminado.

Dentro da casa o gato dorme tranqüilo, quando um ruído na janela o desperta dos seus sonhos: Olhos verdes brilham na escuridão da sala. Ele espera. Parado escuta o silêncio ao redor. O feixe de luz da Lua que entra pela janela incide sobre o sofá, exatamente no local onde ele se encontra. Irritado, levanta-se e muda de lugar, refugiando seu sono na escuridão total. O gato sonha.

A cama é desconfortável. O velho senhor tenta encontrar uma posição que lhe guarde da agonia. O sono confunde-lhe os pensamentos e ele mal percebe o edredom que se arrasta pelo chão. Antes de embarcar de vez rumo ao vale dos sonhos, ele pensa, da mesma forma que o faz noite após noite, que amanhã deverá procurar um novo colchão. O velho senhor, sem perceber, dorme tranqüilo.

Sentado na escrivaninha o homem pensa. Tenta encontrar uma saída para o enigma que persiste em atormentar o seu sono. O cursor pisca esperando ansioso para preencher a tela em branco à frente de palavras que não vêm. Ele pensa que nunca mais será capaz de escrever uma única linha interessante e sente um misto de tristeza e desespero por isso. Não sabe o que será da sua vida sem a escrita. Os olhos vidrados na tela, o homem pára. Ele pensa.

Ninguém percebe: O gato sonha, o senhor dorme, o homem pensa. Lá fora a noite passa. A flor exala seu perfume que se espalha pelo jardim, iluminado pela luz do luar. Ela luta, em vão, contra a passagem do tempo, contra a manhã que se aproxima. A verdadeira beleza nunca é eterna e as batalhas mais importantes passam sempre despercebidas.

Dormir, sonhar, pensar.

É preciso enxergar.


Ontem, dia 17/02 fez-se um ano desde o primeiro post desse Blog. Fico muito feliz em perceber que um ano depois ainda temos muito o que falar, o que escrever. Agradeço àqueles que nos visitaram e que continuam nos visitando. É muito bom saber que alguém ainda nos enxerga de verdade.