Sonhos Platônicos

sexta-feira, março 03, 2006

Coqueiros Irmãos



A noite vai. O dia vem. Por detrás das montanhas escuras, a aurora surge lentamente, embalada pelos primeiros raios do sol. Cada segundo passado descortina uma beleza que talento humano algum poderia conceber. Linhas avermelhadas riscam o turvo azul do céu dando-lhe um aspecto inexplicavelmente belo. O mundo inteiro parece parar. Os ponteiros do relógio da vida movem-se devagar, para que meus olhos não percam nenhum detalhe.
Tenho de repente a sensação de que algo incrível está por acontecer. Um certo ar de apreensão paira ao redor. É mais ou menos como se o mundo à minha volta se tornasse um enorme teatro e o espetáculo estivesse na iminência de começar. Ao longe, na exata linha horizontal que separa terra e firmamento, as formas ainda negras, mas facilmente reconhecíveis de cinco coqueiros irmãos se destacam na paisagem. A cena é de uma simplicidade bela, única. As cinco árvores solitárias desfrutam dos melhores assentos da casa, tendo uma visão privilegiada do show. A aurora surgirá em poucos minutos, e eles serão os primeiros a apreciá-la. Sua visão me faz pensar rapidamente em como as pessoas que amamos nos bastam. Como é só com elas que desejamos estar quando a vida, a natureza, Deus, nos arrebata com seu incrível poder de maravilhar.
Minha atenção é desviada quando um pássaro cruza o céu à minha frente, voando vagarosamente em direção ao infinito. Percebo que muitos outros cantam em vozes, lindas canções de bom dia, empoleirados nas copas das árvores próximas. Parecem querer prenunciar a beleza do dia que nasce.
A leve brisa da manhã sopra em meu rosto um cheirinho de natureza que me renova, e leva embora todos os resquícios de cansaço que ainda haviam. A sensação é maravilhosa. Estou sentado à janela do escritório em minha casa e o que meus olhos deslumbrados vêem, inspira-me os pensamentos. Penso em você, deitada em seu leito de sono sonhando sonhos dos quais talvez eu faça parte.
“Quanta pretensão”, você me diria.
“Quanto amor”, eu me desculpo. Queria você aqui comigo, mas ficaria eternamente feliz em fazer parte nem que apenas dos seus sonhos.
O céu agora está claro. O sol já desponta por trás das montanhas, trazendo-me um mundo de esperanças ao coração. Os cinco coqueiros irmãos permanecem no mesmo lugar, parados ali como sempre estiveram: Sozinhos, com os melhores assentos da casa e muito bem acompanhados.