Sonhos Platônicos

segunda-feira, agosto 14, 2006

ESQUADRO

A foto fez com que eu lembrasse, sei que ela não estará lá sempre para eu recordar. Quem dera ao invés de retrato fosse uma escultura de ferro ou de qualquer outra coisa que normalmente no ambiente fosse fria. Seria mais incisivo e dolorido. Sou masoquista: olho no espelho e vejo um belo sorriso. Há coisa mais cruel do que você achar graça na dor, gargalhar das lágrimas ou da falência dos sentidos? Definitivamente não. Respondo por você, sei o que pensa.

Não sou romântico, sou dramático, não espero que o vento me traga respostas. Gosto de cenas, de interpretação, de coisas métricas, concretas, contadas, gravadas, grafadas, enfim retas. Tolice é achar. As coisas têm de ser. "Se é ou não é".
Sou covarde, eu sei, mas se pudesse faria da vida um ciclo vicioso de solidão, de silêncio, de palavras. As coisas seriam fáceis, autênticas. Talvez a perfeição, da qual Plantão tanto articulou, existisse nesse mundo de quatro paredes, quadrado. Um mundo quadrado, símbolo do meu ser, da minha vontade, da minha verdade. Nem maior, nem menor, apenas um quadrado. Exageradamente cético sou. Sim, você deve me julgar, a razão sempre prevalece.

Aprendi muito com os obstáculos, mas cansei de ultrapassá-los, não vale mais a pena. Acostumei com a vida, descobri que o mundo quadrado pode existir e as perfeições estão presentes. De certo é difícil enxergá-las, ainda não consegui vê-las, a fumaça fétida encobre a realidade e a sujeira é jogada para debaixo do tapete. Sei, mas não vi, surgem dúvidas é tudo muito duvidoso e relativo, Einstein sabe disso. Os exemplos são os mais diversos, às vezes alguém tropeça, coloca o dedo no nariz ou rouba mais um milhão e “sem querer querendo” um ser torna notícia, a população fica indignada, com medo, com pavor até das conseqüências do próprio medo. Um dos filmes que retratam o que digo é “Tiros em Columbine” do estadunidense Michael Moore.
Por fim, o prato de comida é apoiado nas pernas e torna-se testemunha de uma “família reunida”, assistindo o mundo, mas não fazendo parte dele. Outro dia surge e vem com ele outra verdade e outra mentira.
Contraste: sou a prova dele, sendo eu cético parecendo romântico.
Diferença: basta-me abrir a janela do quarto quadrado.

Meus olhos cá estão para serem motivo de chacota, de alegria, de gargalhadas ou até mesmo para você lembrar de enxergar os próprios olhos.