Sonhos Platônicos

domingo, setembro 17, 2006

Intimidade


- Você acha que estou ficando muito sério?

- Sério? Como assim?

- Não sei... Você não acha que eu ando meio deprimido ultimamente?

- Não me parece. Mas porque você estaria deprimido?

- Às vezes me parece que o mundo todo perdeu um pouco da graça.

- Perdeu a graça? Como assim? Por que?

- Não sei. Não sei de nada. Ando desaprendendo tantas coisas...

- Nossa, o que aconteceu com você?

- Porque?

- Não sei. Você tá estranho...

- Estranho como?

- Distante... Não gosto quando você começar a falar essas coisas.

- Que coisas?

- Essas coisas estranhas... Essas viagens. Parece que de repente você virou uma outra pessoa que eu não conheço. Não gosto de pensar que não te conheço.

- Que isso, não... Não quero te deixar triste. É que a algum tempo já, ando me sentindo... Sei lá... Velho! Parece que a vida passou por mim e eu perdi o ônibus. Não consigo mais ver graça, sentido. É como se minhas emoções tivessem morrido entende? Não sei mais se eu sou feliz.

- Entendo... Mais ou menos. Calma aí. Chega mais perto que estou começando a ficar com frio.

- Ah... Assim tá melhor?

- Tá sim brigada. Mas me explica melhor. Como que isso aconteceu?

- Eu não sei. Eu simplesmente abri os olhos um dia e senti algo diferente. Você estava no banheiro tomando banho, sussurrava uma música que eu não lembro mais...

- Que música?

- Ah não sei, não lembro. Também não importa. Você parecia feliz e de repente eu senti uma necessidade de estar feliz também, mas não me sentia assim. Não entendia porque, mas simplesmente não sentia.

- Que estranho.

- Pois é. Acho que a vida ta perdendo a graça pra mim.

- Ei não fala assim. Você não tá mais feliz com a gente?

- Não! Não é isso! Eu amo você... É que sinto como se algo tivesse faltando.

- Você não respondeu a pergunta...

- Que pergunta?

- Você não tá mais feliz com a gente?

- Não tô mais feliz comigo mesmo. Com esse sentimento de que as coisas não provocam em mim a mesma emoção que provocavam a alguns anos atrás.

- ...

- Você tá rindo do que? Pára!

- Err... Desculpa. Mas é que você tá parecendo meu pai falando.

- Ah é? Legal você né?

- Desculpa. Vem aqui. Olha pra mim...

- O que foi? Quer rir mais um pouco dos meus problemas?

- Não... Pára... Já pedi desculpas...

- Sei...

- Sabe... Às vezes eu fico pensando...

- O que? Que eu sou um idiota?

- Não... É sério, presta atenção... Às vezes eu fico pensando... Será que a gente saberia reconhecer a felicidade se ela cruzasse na nossa frente? Se a gente topasse com ela de repente?

- ...

- Talvez a gente seja feliz e não saiba.

- ...

- ...

- Será?

- ...

- Me abraça?... Brigada... Apaga a luz...

- Boa noite.

- Eu te amo, sabia?

- É eu sei... Também te amo...