Sonhos Platônicos

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Egoísmo Criador...


Sozinho. De novo o mesmo substantivo. Adjetivo talvez? Não. Estar só é tornar-se único: Um ser Um. Quando o Ser é, substantivo se torna, ainda que Um. Das palavras que seguem, no papel em branco nasce o Ser. Dou a luz a um Ser novo, meu. Sua existência me pertence e sobre ela está sobreposta a minha vontade. O que desejo é, não depois, mas agora. Depois talvez? Antes, tanto faz. A decisão é inteiramente minha. Agora por exemplo, dos labirintos da minha mente, preencho o papel com símbolos. Letras latinas num português enrolado, cíclico, que carregam nos braços o filho que meus pensamentos, aprisionados em infinita cadeia neural, lutam pro trazer à vida. Quando? Agora mesmo, logo ali, naquela próxima frase. Nasce o Ser que, por ser singular, nos dois sentidos, é único. Desde já, momento de seu nascimento, condeno-o à solidão. Crueldade? Talvez. Não creio, no entanto. Na pele sofri a solidão das horas. Por que sofrer sozinho? Tantas vezes estive só, tantos dias, anos, que já não sei mais se o fato é tão ruim assim. Não me condenes. As pessoas subestimam a solidão. Sentes penas do Ser só? Perdes tempo. Ele é meu e, sendo assim, no estar só encontra o estar bem. Seus olhos de Lua brilham na neblina dos meus dias. De dentro do papel ele me mostra seu mundo. Agarra-me pelo coração, carrega-me em seus braços. O Criador nas mãos da Criatura. Como posso ter pena de um alguém tão cheio de vida? De verdade? Ele não precisa de ninguém. Tem a mim e eu a ele. Decido: O meu Ser sabe o caminho para a felicidade! Descubro de repente que o que o faz tão especial, é o desejo incondicional de traçar tal vereda por mim, indicá-la no papel com um marca texto cor de sol. Ele indica, mas não segue. Não o deixo. Antes que ao menos pense em dar o primeiro passo, a frase acaba, o texto termina. Ponto final. Daqui pra frente, sigo eu. Sozinho.