Sonhos Platônicos

sábado, outubro 21, 2006

Piscar de Olhos...


Os olhos piscam: Garoa fina. Gelada. Estou sentado no gramado de um parque vazio, deserto: Só, com meus pensamentos em você. No céu, um cinza claro encobre o azul e, na pele, a garoa fria mascara um calor que me percorre as veias. Meu coração queima de desejo, de saudade, de revolta. De raiva contra mim mesmo e minhas atitudes impensadas, mal pensadas. O desejo, é aquele de voltar, reviver agora o momento do sim e do não e agarrar o primeiro. Dizer sim com o brilho nos olhos e a certeza no coração. Não importa o que, não importa como. Nem o depois. Confusão. Indecisão. Insegurança. Pensei que sim e minha boca disse não. Os olhos que me pediam o contrário desviaram-se dos meus, sem jeito. Olhei para longe me perguntando: Por que não? A música toca sufocando respostas. Os olhos piscam. Estou só de novo. Sempre só, no mesmo lugar de sempre: Dentro de sonhos, fantasias. Volto pra casa pensando na resposta. Imagino dias coloridos, azuis e vermelhos. Misturo tudo e descubro que felicidade não se soletra, não se imagina. Fala-se e vive-se. Felicidade é decisão. O grande desafio da vida é decidir-se verdadeiramente por ser feliz. Paro, escuto. Silêncio. Longe, bem longe, eu ouço: Uma voz. Perto. Fantasio mãos e cabelos, corações que batem apressados, contando segundos: atropelando minutos. Horas que nunca passam. Tempo que não se repete, apenas é e continua. Pra sempre. Os olhos piscam e a garoa penetra fria, punhal no cerne da alma. Sentado no gramado úmido vejo mãos dadas. As palavras são doces, açucaradas de sorrisos e promessas. O passeio é longo: páginas de livros, cenas de filmes, letras de músicas. Acordes de violão que cantam nomes interligados por pestanas de sol. Eu e você. Minhas palavras são desconexas, ofuscadas pelo sorriso que escondo atrás de cada uma delas. Rosto pintado em letras de forma. Minhas letras, meu alfabeto. Você de A a Z. Os olhos piscam. O parque está cheio. Pessoas ao redor escutam, compenetradas. A orquestra no palco toca. O céu cinzento despeja sobre todos uma garoa fina, gelada. Ninguém se move. Escutam apenas. A batuta que rege o espetáculo é instrumento de feiticeiro. Gesticulam sons, descortinam viagens. Os olhos piscam.