Sonhos Platônicos

sexta-feira, outubro 06, 2006

Sapatos Coloridos


Ela anda na rua e ninguém a nota. Vai passando em todos os lugares, o intinerário é sempre o mesmo e nem sequer um bom dia ela recebe.
Anda cabisbaixa, sem um sorriso no rosto. Procura por passadas conhecidas, sapatos que há meses observa, mas hoje, justamente hoje não os encontra.

Ficou semanas se encorajando para dirigir um olá ao dono dos sapatos coloridos, olhava no espelho e treinava. Durante quinze dias fazendo as mesmas coisas e no dia da coragem, aqueles sapatos não cruzaram o seu caminho.

Não sabia o que fazer, por obervá-lo, sabia direitinho o andar que trabalhava, até já havia pegado o mesmo elevador que ele, mas nunca sequer uma olhada, uma piscada. Sempre ali, quietinha no seu mundo, nos seus pensamentos envergonhados e sofridos.

Mas no dia anterior tinha se decido, iria falar com o rapaz, procurou no andar dele e nada, esperou na saída e também nenhum sinal de vida. Não entendia o motivo da sua falta, nem sequer compreendia a afeição sentida. Só conhecia o formato do seu rosto, as cores dos seus sapatos e o vazio que sentia ao cruzar o caminho dele.

O mesmo se repetiu por semanas, não cruzava mais o seu caminho, não pegava mais o elevador, nem mesmo andava na mesma calçada. O coração dela começou a sentir um aperto, uma angústia, sentia bem dentro um grito estranho, não entendia o sentido da palavra gritada, só a dor.
Refletindo percebe que aqueles sapatos haviam criado um espécie de esperança, haviam trazido um rubor na sua face, sentimentos nunca antes sentidos. A espera do encontro era grande, mas entendia bem no fundo que era impossível, com o passar dos dias os seus pensamentos começaram a ficar cada vez mais tristes e envergonhados, a fala já não existia.
Trancava-se no mundinho escuro, imaginava o seu encontro, o seu olá, brincava com os pensamentos e nele até a entonação da voz sabia qual devia ser, imaginava o cruzamento dos seus sapatos com o dele, a cor da camisa, imaginava a voz, as palavras que da boca do outro saltariam direto para o seu coração.


Olha no relógio, meio-dia, decide não almoçar na lanchonete que fica no quarto andar e sim caminhar um pouco, lembra-se que dois quarteirões pra cima tem um bistrozinho bem confortável e resolve caminhar até lá, olha pela janela e vê que a primavera já chegou, um dia iluminado, o perfume das flores no ar. Pega e bolsa e dirige-se até lá.
Quando entra uma simpática garçonete se dirige a ela, mostra a mesa vazia e pronto, a acomoda. Janelas grandes que dão para um belo jardim, volta a refletir, deixa levar pra bem longe, os pensamentos mais singelos a tomam. Só volta em si quando ouve uma voz perguntando: Posso me sentar?
Ela parece reconhecer a doce e suave voz, olha para baixo e vê os sapatos coloridos.

Sem saber o que fazer, um largo e belo sorriso surge na face ruborizada...

O primeiro de muitos, o que daqui alguns minutos fará com que os sapatos coloridos se encante pela moça desligada....

Agora só o tempo poderá dizer o que irá acontecer, o tempo que antes era inimigo da menina cabisbaixa, passa a ser seu aliado. Resta agora ela aprender a lidar com a ansiedade e o medo. Cabe a ela viver!!