Escrever...
Faz um tempo já que acordo todos os dias com um sentimento estranho de urgência. Um hábito que virou costume e hoje é algo como uma obrigação. Fazem quase quarenta dias desde que escrevi pela última vez. O verbo aqui tem um sentido menos amplo, mais direto. Escrever pra mim é por no papel, ou na tela em branco do pc, um pensamento, uma reflexão, um sonho. Platônico? Talvez... Hoje meus dedos se cansam digitando palavras sem alma, sem sentido figurado. O concretismo da vida, da minha vida, me deixa com sede. Sede de metáforas, figuras de linguagem que disfarcem um pouco o sentido tão exato da existência. Falta um equilíbrio. Quero voltar a misturar números simples e palavras difíceis numa grande sopa de sentidos abstratos, num emaranhado de histórias de vidas que não vivi, mas que vivem em mim (só em mim?), como um prolongamento estranho, diferente. A tela em branco falou comigo, e da ausência um mar repleto de seres conhecidos surgiu. As palavras me convidaram a nadar e o mergulho encheu de energia o meu espírito. É difícil retornar quando nos desviamos tanto do caminho. É difícil reaprender a nadar quando o que era mar tornou-se deserto. Cavo fundo no deserto da vida e o mar eu reencontro, escondido atrás de cada porta, em cada gota do ar que respiro.
Obrigação?
Deliciosa obrigação...
Eu volto.
Obrigação?
Deliciosa obrigação...
Eu volto.