Sonhos Platônicos

segunda-feira, maio 29, 2006

2

Às vezes as respostas para os problemas mais difíceis, para as equações mais complicadas estão bem na nossa frente.. E a gente sempre tem aquela mania incômoda de não acreditar, de não ver. Cegos e incrédulos desistimos fácil demais daquilo em que realmente acreditamos... Mas deixa pra lá, isso é assunto pra outra história..

Sentou-se à escrivaninha, lápis preto na mão e a intenção clara e decidida na cabeça de escrever-lhe tudo o que sentia. Há muito tempo adiava esse momento com medo de não saber o que escrever ou como escrever. Temia que o papel branco à sua frente engolisse sua vontade de se expressar, de se desnudar em palavras àquela que lhe atormentava os pensamentos. Tinha a plena certeza de que não conseguiria passar das primeiras letras simplesmente porque, sabia, nunca tivera intimidade com elas.

Não se envergonhava disso, pelo contrário: Desde que conhecera os números e descobrira com deslumbre os segredos da matemática, nenhuma outra forma de expressão jamais lhe interessou. Via neles a magia que lhe faltava à vida, sua simplicidade lógica e sempre coerente mostrava-lhe o sentido que jamais encontrara nas palavras. Aliás, por essas últimas sempre dedicara especial desprezo. Não entendia e preferia não confiar em uma linguagem que a seu ver era um convite à falsidade em duplos e triplos sentidos, que dizia ser o que não se era e que sempre era o que nunca se dizia. Às letras dedicava o papel de coadjuvantes em suas equações.

Passara então a adotar os números como principal linguagem de comunicação, expressando-se em palavras o mínimo possível. Assumiu vícios matemáticos de linguagem, desenhando expressões capazes de responder às mais variadas indagações e necessidades. Sabia e pouco lhe importava a opinião dos conhecidos, que acreditavam ter ele perdido o juízo. Jamais dava ouvido às provocações e nunca prestou atenção nos dedos que lhe apontavam na rua, tachando-o de louco intransigente. Não dava o braço a torcer: Queria mostrar ao mundo que a beleza escondida por trás dos 10 algarismos numéricos, superava em muito a abstrações representadas pelas 23 letras do alfabeto que, mesmo com 13 símbolos a mais, jamais desvendariam com tanta propriedade e simplicidade as verdades universais que os primeiros desvendavam.

Passava horas sozinho no quarto de estudos deduzindo equações que, segundo seus cálculos, contavam com precisão assombrosa o número de estrelas no céu, mediam o volume de água de todos os oceanos e ofereciam explicações matemáticas para todos os fenômenos naturais que assolavam o mundo, dando-lhe ainda a capacidade de adivinhar a data em que ocorreriam e o número de mortos e feridos dos piores acidentes aéreos, marítimos e terrestres da história. Além disso, gabava-se por poder prever em números, quantas vezes é preciso se apaixonar antes de se encontrar a pessoa certa e, quando isso acontecer, a quantidade de calorias perdidas no esforço de mantê-la junto a si.

A crença irracional no poder quase que sobrenatural das equações foi fatalmente abalada quando, contrariando as mais otimistas previsões, a pessoa certa, àquela por quem agora enfrentava o doloroso desafio das palavras, bateu sem avisar à sua porta, procurando por aulas particulares de matemática. Não houve amor à primeira vista, tal coisa, é sabido, não existe. O que houve foi uma identificação à primeira vista. Uma certeza inexplicável de que ali parada à sua frente encontrava-lhe a desgraça e a redenção da vida.

Foram meses de provações e sacrifícios. Ela precisava de ajuda nas provas finais e o cálculo era sua maior dificuldade. Ele a ensinava com paciência, mas o desejo desesperado de alongar ao máximo a duração das aulas, na esperança infantil de tê-la mais perto, confundia em si a vontade de ajudar, dificultando nela o aprendizado daquilo que, a seu ver, reunia em 10 símbolos tudo que de mais indecifrável existia no universo.

Nele crescia a cada dia o desejo intenso de declarar-se apaixonado. Ao mesmo tempo, no entanto, fechava-se ainda mais dentro de sua própria existência, numa tentativa desesperada de traduzir em equações a enorme bola de fogo que queimava em seu coração. O músculo vivo dentro do peito clamava-lhe respostas que não tinha e não conseguia encontrar, e na ponta do lápis o resultado impossível retornado era sempre o mesmo: 2.

Vendo o tempo escorrer por entre seus dedos como grãos de areia de um deserto que deixava de ser infinito, desistiu de esperar que o entendimento que se resignava em encontrar-lhe os pensamentos desvendasse em luz o mistério e, desvencilhando-se das garras de um orgulho já muito ferido, sentou-se à escrivaninha, lápis preto na mão e a intenção clara e decidida na cabeça de escrever-lhe tudo o que sentia.

As palavras são bestas selvagens e o escritor, caçador incansável, domador valente. Não sabendo por onde começar, viu à frente o fim do caminho que se abria. O lápis preto toca o papel em branco e a batalha começa...



Abraços!!!

sexta-feira, maio 26, 2006

Loucas Coversas



Um presentinho da dona Liz pro Doutor Onde deixei as Palavras...

Onde deixei as palavras - Então dona azeitona eu entendi... E pode deixar que de vez em quando eu brilho por ai viu... Mas só de vez em quando....(escrever coisas legais... só quando eu estou procurando as palavras... o pior é que eu não to encontrando elas há algum tempo já...).

Liz Atômica - Onde deixei as palavras busque-as com carinho. No lugar onde você menos imaginar, lá irá encontrar.

Ás vezes esquecemos que as coisas mais simples da vida são as mais bonitas e raras...

Um diamante só tem o valor imenso, pelo fato de ser lapidado, assim como as pessoas com as palavras, elas só soam bonitas quando forem simplesmente lapidadas com carinho.

Não se afobe, logo em seus sonhos aparecerão as verdadeiras palavras.

Onde deixei as palavras - Liz Azeitona, procurei palavras em lugares longínquos, em sonhos distantes, porém elas não estavam lá. Carrego comigo a simplicidade, porém elas têm me dado as costas ultimamente, me colocando frente a frente com a complexidade algo tão incomum em minhas palavras. Palavras valem mais q diamantes pelo simples fato de diamantes serem belos aos olhos e palavras belas ao coração, mas como lapidar palavras com essas mãos tão brutas? A resposta está por ai em algum lugar... Perdida.

Liz Atômica - Sim, sim, sempre precisa, precisa só ter mais coragem, deixar o medo no armário, e ser feliz colocando as palavras, quaisquer que sejam, assim, quem sabe, algo meio sem nexo, com ou sem vida, saltará do papel e irá aparecer em algum coração desavisado.

Onde deixai as palavras - Às vezes a coragem é pequena e o medo acaba se sobressaindo. Colocar palavras no papel nem sempre é um sinal de felicidade... Felicidade amiga q deixa saudades se mudou pra longe levando consigo as belas palavras. Do papel para um coração desavisado? Ou de um coração cansado para o papel? A resposta... Mais uma vez... Difícil de encontrar...

Liz Atômica - O papel nos confunde, nem sempre sabemos o que somos. Será que um dia saberemos?

Trocamos atos falhos, nem sempre sabidos. Sabedoria, quem a tem? Me conte um conto... Um conto pode ser o que te falta para comprar aquela caderneta... Para escrever seus sonhos rascunhados, muitas vezes escritos em guardanapos em algum bar da esquina... Desavisado, esquece que sonhar é pra todos... O coração anda a vagar por algo ou alguém... Eu continuo aqui sentada esperando...

Onde deixei as palavras - Papel amigo de madrugadas, ouve as angústias de um coração cansado. Sabedoria? O coração não é sábio ele apenas escolhe... A caderneta me acompanha fiel, só não sei se as palavras rudes despejadas por esse coração fazem jus a essa fiel companheira... E eu continuo sentado esperando... Mas será q esperar é o certo? Às vezes é necessário mandar o coração à luta...

Liz Atômica - Lutar pelas causas que acreditamos corretas... Honestas ao seu ver, ao meu, aos outros pouco importa. O que importa é acreditarmos em algo e lutarmos, sempre. Com o coração, com a vida. Darmos tudo e recebermos nada em troca? Quem sabe um sorriso, um olá, um afago. Certas coisas não têm preço, o que queremos? Liberdade, sermos livres para amarmos e vivermos do jeito que quisermos, sem ter pressa da opinião, do mundo, do medo, sem ser refém do sistema, sem ser refém de nós mesmos. O jeito... Lutar, SEMPRE.

Onde deixei as palavras - Liberdade? Vivemos na gaiola chamada mundo... Só podemos lutar por um espaço maior dentro da gaiola. Por isso eu sonho, no meu sonho eu sou livre, lá é um lugar onde eu tenho minhas asas, dar e não receber nada em troca no meu sonho isso não existe, lá a gente vive sorrindo, mas lá acaba qdo eu acordo... É um coração cansado escrevendo palavras tristes... Com licença vou sonhar e já volto..

domingo, maio 21, 2006

Diálogos...

Às vezes nem nossos scraps escapam..

LA: Azeitona virou azeite que está encaixotado em uma bela caixa de madeira rumo. Foi comprado por um charmoso francês e está de viagem para a França.
O francês, um chef de cozinha irá fazer delicias com o azeite raro encontrado aqui, descobriu ao degustá-lo que uma forte e graciosa sensação pairou em seu ser...
Nunca irá abandoná-lo..

CdP: Insultado, akele que um dia foi cover de algo, mas que agora se sente sem inspiração, perdido num emaranhado de palavras sem forma ou sentido, resolve escrever um recado à altura da frutinha da oliveira. Ele tem medo e os dedos tremem procurando as palavras escondidas nos botões do teclado. Sua luta eh feroz, sua vontade, enorme, mas as palavras não vêm, orgulhosas e cheias de vida própria, teimam em não se deixar dominar. O cover do poeta, escondido sob as sombras do esquecimento e da falta de inspiração, olha o espaço em branco na tela à sua frente e tenta adivinhar os lindos versos que o preencheriam, se um simples imitador deixasse de ser. É em meio a esse turbilhão de pensamentos, que algumas poucas letras são pescadas, alimentando seus versos com as palavras que acabas de ler. Espera quem sabe ter-lhe satisfeito, e um pouco de poesia em sua vida ter colocado por que afinal, como lhe mostrou uma certa Azeitona Adormecida: Não eh preciso ser poeta de verdade pra ser poético.

LA: Não se insulte,
Não se turbe,
esqueça as tristezas, coloque de lado as maldades.
Separe em um vidrinho a alegria, coloque-a dentro da bolsa. Leve para cima e para baixo.
Desafios sempre bem vindos somos covers da vida, coadjuvantes do tempo, admiradores da tempestade,
é a loucura da vida acaba distraindo os nossos sinceros sentimentos...

CdP: Guardo tudo, todas as minhas alegrias andam comigo. Nunca me separo delas, são suas lembranças que impulsionam, que movem. Mas aí vem o descanso, a noite, o sono e são nesses momentos, quando o corpo dorme e as defesas são baixadas, que os pensamentos me traem e as incertezas, as mágoas e aquelas velhas dores de sempre pegam o coração desprevenido. Realidade nua e crua repleta de crueldade por todos os lados...
Mas não hj.
Não agora.
Que nessa fria noite de domingo a felicidade mostre pra gente que nem todo o sonho não eh realidade e que hoje, e sempre, é necessário sonhar...

LA: Sonhar!!
Por que, por onde, por quanto??
Tem preço, tem peça, tem praça?
É dormir sempre, é a esperança de um belo sonho, acordar para que??
Ela se pergunta, sempre.. Seus sonhos são belos, fantásticos, povoados de amor e alegria...
Realidade, tristezas e mentiras. Tanta covardia
Quando menos espera... Tibum
Clique, seu coração se apaixona
Ahhh, sonhar...

CdP: Na verdade, na verdade, a gente nunca sabe direito quando termina o sonho e começa o sono. Aí eu paro, olho em volta e penso: "Será?" O sonho cansa o sono e acordo achando que dormi o bastante, tah na hora de acordar. Mas aí os olhos pensam: "Pra que? Se eh dormindo que a vejo e ela me vê? Se eh sonhando que ouso dizer o que não penso e penso em dizer tudo oq falo? Melhor continuar dormindo e continuar amando..."

LA: É por essas e outras que a borboleta escolheu continuar dormindo, não mais acordar.
Quero a bravura da pequena voadora.
Prestar atenção nos perfumes e quando encontrar aquele encanto,
Dormir, não mais acordar.
Nas cores e nas asas descobrir que a vida pode ser bela, mesmo deixando um pedacinho do mundo de lado para desbravar outro.
Adormecer, sonho tanto com isso.
Hoje durmo, acordo, durmo, acordo.., Nada sonho e em tudo penso... Quando vejo é manhã, cinzenta, sem sol, sem brilho, sem luz
O que ilumina, uma pequena lampadinha, como um vaga-lume a vagar pelas bandas co coração.
A pensar, onde estará os olhos cantantes apaixonantes que desabrochou um pequenino sentimento a buscar no ser voante???
Onde estará??
Durma, quem sabe encontrar...

CdP: Fica difícil.. Difícil encontrar quando a gente procura. Olho em volta e só vejo o que naum quero, oq passou, não tem importância. O que procuro, naum encontro, me encontra. Um dia vem e sei que qdo chegar não estarei pronto. Acostumado em dramatizar a realidade, não conheço a realização, eh pessoa estranha. Aí ela vem, me pega de surpresa e me derruba num clique, meu coração se apaixona e o resto de mim chora, por saber que coração naum pensa, sente.

LA: Sente.
Acanhado, com cuidado e temeroso,
Anseia por um riso, um gesto.
Alimento, para a alma, para a vida.
A vida que está cansada de não ter motivo para viver e quando sento, boom!
Lá vai, algo mais, um motivo, sem saber corre um gás, uma força para se manter vivo, inquieto.
Percebe que sofre, que ama, que chora.
Medo de não encontrar... Platônico os olhos, o cheiro de sombras vive até o próximo encontro..

CdP: Ansiedade, mãos geladas, suadas, sem cor. O dia se aproxima e a luz jah vem brilhando. Ilumina trevas e vivifica velhos dramas empoeirados no armário. Limpa as traças do tempo e perfuma cheiros de belas flores impossíveis. O coração jah vai sonhando o encontro e o sopro agora eh de vida, eh bater mais forte, livrar-se do corpo, da alma. Cansei do amanhã! Quero hj oq nunca tive ontem. Quero agora porque depois... Tah longe...


Abraços a todos e beijos à Dona Liiiz Azeitona (Atômica)....

sábado, maio 13, 2006

Subway Story...


Início de noite. O olho no relógio vê que para as sete, meia hora. Na cabeça, contas rápidas sugerem calma, vai dar tempo. Os segundos nos ponteiros dizem não, passam rápido, urgentes.

À volta, rostos cansados pedindo casa, família, jantar, televisão, cama. Sinto uma certa cumplicidade por eles. Entendo seus desejos por saber que são também os meus. A viagem para casa é sempre longa. A ansiedade de chegar torna os passos grandes jornadas.
O trem chega trazendo alívios de “Até que enfim!” e a lufada de ar que me atropela é brisa para o meu rosto cansado. O carro pára e a porta se abre bem à frente (acertei de novo!), de dentro o ar gelado do ar-condicionado é arrepio nos meus braços. A multidão represada do lado de fora inunda o espaço aberto e em poucos segundos somos um com o trem em movimento, respirando o mesmo ar gelado que não demora em tornar-se fogo à nossa volta.

Com uma das mãos me esforço em alcançar o livro dentro da bolsa. Ele vem fácil e de suas páginas vejo saltar um mundo que me encobre os olhos, vestindo a realidade de poesia. Vivo agora nas palavras apaixonadas do amor eterno de Florentino Ariza por Fermina Daza e de lá a vida de outrora me parece distante, sem graça.

Sou despertado de repente pelo abrir de portas do vagão. Estação Consolação. Mais pessoas se espremem trem adentro, tornando o espaço ainda mais desconfortável e o ar, rarefeito. Em meio à confusão, mau a percebo entrando e quando dou por mim, lá está, parada bem à minha frente. Nossos olhares se encontram, em meio a tantos outros. Um segundo apenas que lentamente se transforma em dois e um sorriso envergonhado ao qual, encantando, não resisto: Desvio o olhar. Sinto seus olhos sobre mim e o medo rapidamente transforma-se em terror. Desespero por não saber o que fazer, como reagir.

Finjo estar lendo, mas as palavras se embaralham no papel. Tento, mas não consigo mais encontrar refúgio nas páginas que me parecem agora uma confusão de letras sem sentido e meu autocontrole é traído pela enorme atração que aquele olhar exerce. Volto a fitá-la e a percebo tentando descobrir o adversário que conseguiu, mesmo que por alguns segundos, manter meus olhos longe dos seus. Levanto um pouco o livro para que ela possa ver com mais facilidade, em sua capa azul, que meu amor vive nos tempos do cólera.
Mais um encontro de olhares.

Mais um sorriso.

O brilho das estrelas de repente começa a fazer sentido.

Estação Trianon. O sorriso se desfaz. O encanto evapora. O coração chora ao vê-la sair, abandonando para sempre as linhas da sua história. Um último esboço de reconhecimento ao vê-la subir as escadas rolantes. As portas se fecham, o trem parte veloz. Do paraíso, à frente apenas a estação.

O livro se abre e de letras brotam sonhos. No relógio, minutos e segundos brincam de pega-pega.



Abraços a todos!!

segunda-feira, maio 08, 2006

Aceito sugestões, não encontrei um título para essa linda história!!


Pequenina e colorida, suas asas brilhavam ao voar. Gostava de desbravar novos lugares, mesmo sabendo que correria perigo, não se importava com o que os outros diziam. Só havia um problema, sentia falta de alguém para compartilhar suas idéias e seus sentimentos.
Voava por aí, algo lhe chamou a atenção, um perfume doce e delicado, não sabia de onde vinha. Começou a prestar a atenção e a pousar em cima de cada flor que encontrava, mas nada que pudesse ajudar a borboleta a encontrar aquele delicado olor.
Até que, em um cantinho, escondida estava um rosa envergonhada, triste por sentir-se rejeitada, ninguém ali pousava ou parava para admirar sua beleza.
A pequena encantada, pára, observa e resolve chegar mais perto, precisa entender o porque do sentimento de carinho e encanto sentido por aquela flor.
Cada chegada mais perto, seu coração pulsa mais forte, acaba entendendo que o que acaba de sentir por aquele ser é amor, não aceita. Se chateia, pensa. Sou apenas um serzinho voador, não sou uma rosa para poder amá-la, nunca isso daria certo, como pode uma borboleta por uma rosa se apaixonar???
Não entende que esse mesmo sentimento desabrochou na envergonhada rosa. Ela por sua vez, para demonstrar o que sente, exala o seu melhor perfume.
A borboleta tenta se encorajar, quem sabe eu me declarando ela aceite meu humilde amor, bem nessa hora de coragem, percebe borboleteando a rosa que abaixo das belas pétalas existe pequenos pontinhos que machucam, fica com medo, ali adormece.
Acaba sonhando, algo mágico acontece. Enxerga no seu sonho sua amada rosa borboleteando, tudo é possível. Juntas formam uma dupla de risos e cores. Decide não mais acordar.

quinta-feira, maio 04, 2006

Festa de Aniversário Parte II


É, tá grande mesmo eu sei. Não se assustem não. Ela merece...

Muitos de vocês podem estar pensando: “É muito fácil mudar a história quando bem entender, manipulando-a para que termine da maneira que se deseja. Isso não faz com que ela passe a fazer sentido. Na verdade isso só prejudica o bom entendimento da mesma”. Bom, devo confessar que entendo perfeitamente aqueles que pensam dessa maneira. Sei que muitas pessoas simplesmente não conseguem apreciar histórias nas quais não vejam sentido em cada passagem. Aqueles que, como eu, apreciam muito mais o espírito, ou o significado transcendental das palavras no papel, podem encontrar nessas pessoas um enorme grau de falta de sensibilidade. Eu peço, no entanto, caros amigos, que não pensem dessa forma, que não se curvem ao preconceito e muito menos à intolerância. Algumas pessoas precisam entender a mágica da vida para poder senti-la e isso não é de todo ruim. Resistir a acreditar no impossível deve ter alguma utilidade. Não sei dizer ainda qual, mas deve haver.

De onde teria vindo aquela ligação telefônica? Quem seria o intruso misterioso que inesperadamente surgiu nas linhas da história de nossa solitária personagem, que apenas por ser única pode ser chamada principal? Vamos às respostas.

Ouvido encostado à porta ele escuta atentamente os sons vindos do outro lado. A madeira fria é a barreira que lhe separa a vida de sua cor: A primeira aqui fora, desesperada por entrar e a segunda lá dentro, presa no colorido castanho dos olhos daquela que canta “Parabéns pra Você” ao telefone. Ele percebe, não sem violenta palpitação, que o momento crucial, o clímax de seu estratagema se aproxima. O dedo sobre o botão da campanhia formiga num misto de excitação, medo e ansiedade. A dúvida que lhe atormenta é enorme pedra de gelo dentro do estômago. Seus pensamentos são levados ao começo de tudo, àquele segundo perdido num passado aparentemente longínquo, quando avistara pela primeira vez o par de olhos castanhos que desequilibrariam num passe de mágica a cadência segura dos pulsares do seu coração. Fora seu último segundo de felicidade. A partir daquele momento descobrira, desolado, o significado da palavra solidão.

Voltou para casa hipnotizado pela visão que tivera. Ao entrar, fechou a porta atrás de si e foi como se tivesse mergulhado num oceano desesperadamente pacífico, noite escura, água gelada e o vazio cercando-o por todos os lados. A solidão que sentia era tão real que quase podia agarrá-la com as mãos. Sua onipresença não lhe deixava refúgio, estava em todos os cantos do quarto, da sala, da cozinha, do prédio, do mundo. Imaginou que jamais seria completo de novo se não tivesse aquela mulher, porque ela, mesmo sem o saber já o tinha.

O coração é o único que tem poder verdadeiro pra mudar uma pessoa. Ele conhece os pontos fracos, os lugares certos e principalmente os errados e é neles que cruelmente coloca suas armadilhas. Tornou-se então a antítese do que havia sido até então. Passou a viver a vida dos introspectivos, vendo um mundo que só seus olhos viam e sonhando passeios de dedos entrelaçados, conversas intermináveis ao telefone e abraços apertados de não querer largar.

Descobrir onde moravam os olhos castanhos não foi mais difícil que descobrir seu telefone ou ainda o dia do seu aniversário. O “como”, não faz diferença. O que realmente importa é a decisão, a iniciativa. Só quem ama ou já passou por uma experiência de amar sabe disso. Quantos amores não viram a luz da realização e morreram antes mesmo de começar, pela maldita falta de iniciativa? Coragem de dizer o que se sente é moeda rara.

A decisão veio repentinamente como, aliás, a maioria das grandes decisões vêm. Precisava chamar atenção, mostrar que estava ali. Ele percebia a profunda tristeza que residia por trás daqueles olhos e o desejo de se mostrar presente camuflava na verdade uma imensa vontade de ajudar, de dar cor, de fazer reluzir um fio de felicidade naquela vida que lhe parecia tão escura. Sua imaginação, cheia de habilidades, tentava desesperadamente criar uma forma de estabelecer contato.

Em cima da mesa havia um papel de propaganda que encontrou colocado sob a porta de entrada pela manhã. Distraído alcançou-o, começou a ler o que estava escrito e, súbito descobriu o que fazer. Pegou o telefone e discou o número indicado. A operadora atendeu e ele fez o pedido: na tarde do dia especificado, uma certa pessoa receberia num telefonema, uma mensagem de feliz aniversário.

Seu plano, no entanto, não pararia por ali. Ele queria estar lá quando ela recebesse o telefonema. Queria dar-lhe o buquê de flores que nunca recebera, devolver-lhe o abraço que lhe pertencia e dizer-lhe que era só com ela que queria escrever as futuras linhas de sua história. Desejava mostrar-lhe em palavras e principalmente em gestos, que a vida sem ela tornara-se um vazio de solidão interminável.

E agora cá estamos. Numa posição privilegiada observamos a cena. Buquê de flores em mãos, nervosismo dissolvendo-se em gotas de suor que lhe escorrem pela testa e o coração em incontroláveis convulsões de desespero, ele espera a hora certa. O momento se aproxima. Já pode sentir a felicidade. Sua proximidade é tamanha que uma certeza de que poderia agarrá-la se esticasse as mãos através da porta fechada, o faz querer apertar o botão o mais rápido possível. Do outro lado, a música acaba. As palmas cessam de bater. No silêncio carregado de emoção, o som do clique do fone sendo colocado no gancho é o sinal claro de que precisava. É agora.

Por um instante ele pensa em desistir. Um instante apenas de terror que passa na velocidade de um suspiro. O dedo sobre a campainha faz a pressão. Ouve-se lá dentro o soar dos sinos de seu julgamento. Pensa em fugir, mas sabe que agora é tarde, não há mais volta. Alguns segundos e passo hesitantes se aproximam da porta.

“Quem é?” – Uma voz cheia de dúvidas pergunta.

Ele diz-lhe seu nome. Ela o conhece é claro, e isso só a impele mais fortemente a perguntar:

“Você? O que foi? Algum problema?”.

Ele explica que precisava falar-lhe apenas. Era importante.

“Tudo bem. Só um minuto”.

Vagarosamente a porta se abre. Uma mão, fios de cabelo, um rosto. Nos incríveis olhos castanhos, a desconfiança.

“Pois não?”.

Ele mostra os presentes que trouxe.

Primeiro o buquê de flores.

Depois, o coração.

Surpreso, uma mão o convida a entrar.

Um simples passo que o leva pra dentro do sonho, transmutado em doce realidade.


FIM!!!


quarta-feira, maio 03, 2006

Um pouco de outros

O que vocês leram hoje, não tem nada de Liz e sim do pai do psicodrama.
Fiquei muito emocionada quando o li.
Graças a minha amiga Stella posso compartilhar desse belíssimo texto com vocês....
Estou totalmente sem palavras para descrever o que sinto sobre ele, então por favor deixem os seus comentários e boa leitura. E peço desculpas por não saber o título do poema, se é que ele o possui.

“Um encontro entre dois: olho no olho, cara a cara
E quando estiveres próximo tomarei teus olhos
e os colocarei no lugar dos meus,
e tu tomarás meus olhos
e os colocarás no lugar dos teus
então te olharei com teus olhos
e tu me olharás com os meus.
Assim nosso silêncio se serve até das coisas mais
comuns e nosso encontro é meta livre:
O lugar indeterminado, em um momento indefinido,
a palavra ilimitada para o homem não cerceado.”

J. L. Moreno