Sonhos Platônicos

quarta-feira, agosto 30, 2006

Invernos diários


Escrever, sem passar pelo papel antes.direto na tela.O que me motiva?Fugir do método talvez. Impulso. Vontade de criar, juntar as palavras, ver o que vai dar. Construir um castelo de palavras, sem a pretenção gramatical. Simples. Sincero. E como sempre a inspiração é momentânea, o castelo parece desmoronar aos poucos,vontade de apagar tudo isso, desistir de escrever. Gostar de escrever. Saber escrever. Coisas muito diferentes. Gosto e quero aprender.
Querer, verbo pra muitos. Conseguir.......
O sol brilha lá fora, e eu aqui com meus invernos diários, brincando de escrever,querendo sorrir(sempre querendo).
"Love, love is a verb..love is a doing word...." me distraio ouvindo a musica, agora ela parece distantante, e novamente me distraio, agora perdido em pensamentos, lembranças...
O sol vai se escondendo aos poucos levando consigo o que restava de brilhante no dia.Nos dias.
E eu aqui com meus invernos diários.....brincando de escrever,querendo sorrir.

sexta-feira, agosto 25, 2006

Ver...


A borracha arrasta-se pelo asfalto num guincho ensurdecedor: Gritos de surpresa, um baque surdo do metal contra algo pesado, um gemido de dor. Não demora e o ar se enche de um odor característico, conhecido. Borracha queimada. Silêncio. Imperceptível, ele ouve um arrastar-se, seguido de ruídos de esforço. A mão que lhe agarrava o braço, e que naquele momento o aperta como se fosse ele segurança, puxa-o para mais perto, para que a voz lhe alcance mais rapidamente os ouvidos. A urgência rouba das palavras o sentido, e ele demora a entender o que na verdade adivinhara sozinho: Ali perto, talvez a poucos passos, uma vida terminava.

Ele não podia ver. Preso estava em um mundo de escuridão e, no entanto, sentia-se livre. Esse era seu mundo, o mundo que Deus lhe reservara e nele se sentia em casa. As pessoas passavam apressadas, esbarravam em seu corpo como se não notassem sua presença. Não era naquele momento mais que uma peça sem importância, um empecilho que atrapalhava a curiosidade. Elas queriam chegar perto, presenciar aquela luta ancestral, talvez perceber o instante preciso em que um corpo passa a ser apenas um corpo, nada mais.

Ele agora está só. Parado sobre a calçada, imóvel, apenas ouve. Tenta perceber os acontecimentos da única forma que lhe é viável. Em sua cabeça, cada voz ganha um rosto. Cada ruído, uma causa. Cada suspiro, uma alma. A cegueira enxerga a alma das coisas.

O filme é em preto e branco. A cena é trágica. No céu, brilha um enorme círculo branco, encharcado de calor e luz. No asfalto à frente um grupo crescente de pessoas que se acotovelam curiosas, jaz em murmúrios. No centro do grupo, um espaço vazio. Ali, vida e morte brigam entre si por um par de olhos que oscilam entre o abrir e o fechar. Ninguém se move. Ninguém ousa. A sede de tragédia camufla o fato de ali ao chão encontrar-se um ser quase vivo. Ou quase morto. Todos querem ver. Ver.

Ele se abaixa, rente ao chão. Os ouvidos captam verdades que aos olhos passam desapercebidas. Por entre o amontoado de pernas vemos dois olhos que brilham em choro. Sua cor azul é a única que se vê. A dor que expressam vai muito além da dor física, é espiritual. Que histórias se escondem, perdidas por trás do azul? Os olhos não vêem. Os ouvidos não ouvem. A alma, como sempre, sabe. É só com a alma que se sente de verdade.

Em meio a tantos ruídos diferentes, tantas vozes, falsos pesares, ele ouve o suspiro. Não precisa chegar perto, lutar ferozmente por um lugar na platéia para saber que o show já terminou. O preto e o branco reinam sós.

Põe-se em pé. Com a mão procura o poste onde, sabe, encontra-se o semáforo. O senso de direção lhe informa o caminho correto. Os ouvidos, a cor vermelha do farol. Atravessando a avenida ele pensa no azul. Que cor seria essa? Ele não sabe. Ele nunca a viu.

quarta-feira, agosto 23, 2006

Uma música...


"A tristeza é senhora (...)”.

Suas lágrimas estavam presas nos olhos, há tempos seu pranto não se tornara canto.
Deveras a moça tinha coração de poetisa. Rimava tristeza com primavera e isso quase resultava em jazz. Se brilhasse desejaria ser estrela de forma que seu reflexo a deixasse cega. Cândida escondia-se no silêncio das relações e assistia as pessoas de um lugar privilegiado: o palco, nele também apresentava suas inúmeras personagens. Não era atriz, era moça. Enquanto ficava por de traz das cortinas vermelhas, dançava, rodopiava pelo palco - sem música mesmo - sentia os compassos, imaginava as pausas, os acordes rolando e acordando para a bailarina que de novo rodopiava e quase cantava. Após alguns instantes de exaltação as cortinas se abriam e imediatamente cordas eram presas em seus pulsos e alguém - um ser indescritível - controlava suas falas, seus sorrisos e o piscar dos olhos. A platéia não prestava muita atenção, de vez em quando alguém tentava entender o que se passava, mas logo desistia, pois os olhos fundos que armazenavam tanta dor, afugentavam qualquer aproximação. O olhar tornara-se uma forma de defesa, onde guardava dores de todo o mundo.
Cândida prestava atenção no público, desde os casais até as comadres que de quando em quando, feito gralhas soltavam gargalhadas e a fazia imaginar tempos em que a liberdade fosse prioridade e o amor, romântico. De certo uma relação estranha, a farsa era tamanha e os rios de sorrisos pareciam gravados, mas isto era o que Cândida achava ser felicidade. Controlada e conseqüentemente insegura de seus atos imaginava como seria ser livre e ao invés de no palco estar pudesse ao menos se sentar na última fileira. O que lhe deixava inquieta e repleta de dúvidas era saber quem assumiria o seu lugar, afinal assistir não é uma tarefa fácil, há um punhado de regras e trejeitos que compõem o espetáculo de figuração.
Em uma de suas exaltações antes do espetáculo, Cândida caiu, bateu a cabeça e desmaiou. Enquanto estava lá, estendida no chão, sonhou estar em um anfiteatro (o mesmo que se apresentara) assistindo a própria vida. De súbito ficou estagnada e as lágrimas claras sobre a pele escura invadiram a sua face, o choro sufocou e em um soluço ela acordou. O primeiro sinal para o início do espetáculo soou e simultaneamente ela cortou as cordas, todas elas e trancou em uma pequena sala o “Senhor Controlador”, após alguns outros sinais as cortinas foram arrancadas pelas pequenas mãos de Cândida e a moça da forma mais bela e sublime dançou: seus passos traduziram notas musicais, sua voz cantou a dor e de seu encanto surgiu o amor que fora esquecido lá fora, no frio, mas que seus vorazes sonhos trouxeram à tona algo sublime, bonito, algo que apavora a solidão. Daí já não existia palco e platéia, restava apenas o filho de Cândida: “um samba”.

“(...) O samba é o filho da dor. O grande poder , transforma (dor)”.

domingo, agosto 20, 2006

O Mundo de Liz...


Quando ando por aí, pedem para eu escrever algo alegre. Sempre sou questionada do por que dos textos tristes. Falam que não há possibilidade da tristeza num ser cativante e risonho.
Só que esses seres não entendem que não é por causa de um sorriso que há alegria...
O que se passa aqui dentro... A verdadeira face de Liz...
Uma menina repleta de sonhos e por ser tão sonhadora não cresce, continua no mundo da fantasia, onde lá tudo é possível. Quando se depara com algo errado, não entende e chora. Fica amargurada e um pedaço do castelo construído com amor, risadas, sonhos e travessuras acaba se destruindo.
O nariz de Pinochio cresce quando mente, castelo de Liz se desmorona quando consegue enxergar o verdadeiro mundo que vive.
A distância que existe entre a razão e a emoção torna-se cada vez maior e mais dificil de ser percorrida...
Agora ela só percebe as desilusões que encontra no seu caminho, aquele mundo de sonhos esta prestes a ser quebrado. O problema, se isso acontecer a pequena Atômica morrerá...
Quando encontra algum motivo para escrever, esse é de angústia, vazio, dor, tristeza. As alegrias são pequenas e momentâneas, nada sobrevive na imensidão dos pensamentos.
Ela se prepara para deitar e ora. Todas as noites a mesma rotina.
Seu maior pedido ou será o único. Um dia acordar no seu mundo de sonhos!

segunda-feira, agosto 14, 2006

ESQUADRO

A foto fez com que eu lembrasse, sei que ela não estará lá sempre para eu recordar. Quem dera ao invés de retrato fosse uma escultura de ferro ou de qualquer outra coisa que normalmente no ambiente fosse fria. Seria mais incisivo e dolorido. Sou masoquista: olho no espelho e vejo um belo sorriso. Há coisa mais cruel do que você achar graça na dor, gargalhar das lágrimas ou da falência dos sentidos? Definitivamente não. Respondo por você, sei o que pensa.

Não sou romântico, sou dramático, não espero que o vento me traga respostas. Gosto de cenas, de interpretação, de coisas métricas, concretas, contadas, gravadas, grafadas, enfim retas. Tolice é achar. As coisas têm de ser. "Se é ou não é".
Sou covarde, eu sei, mas se pudesse faria da vida um ciclo vicioso de solidão, de silêncio, de palavras. As coisas seriam fáceis, autênticas. Talvez a perfeição, da qual Plantão tanto articulou, existisse nesse mundo de quatro paredes, quadrado. Um mundo quadrado, símbolo do meu ser, da minha vontade, da minha verdade. Nem maior, nem menor, apenas um quadrado. Exageradamente cético sou. Sim, você deve me julgar, a razão sempre prevalece.

Aprendi muito com os obstáculos, mas cansei de ultrapassá-los, não vale mais a pena. Acostumei com a vida, descobri que o mundo quadrado pode existir e as perfeições estão presentes. De certo é difícil enxergá-las, ainda não consegui vê-las, a fumaça fétida encobre a realidade e a sujeira é jogada para debaixo do tapete. Sei, mas não vi, surgem dúvidas é tudo muito duvidoso e relativo, Einstein sabe disso. Os exemplos são os mais diversos, às vezes alguém tropeça, coloca o dedo no nariz ou rouba mais um milhão e “sem querer querendo” um ser torna notícia, a população fica indignada, com medo, com pavor até das conseqüências do próprio medo. Um dos filmes que retratam o que digo é “Tiros em Columbine” do estadunidense Michael Moore.
Por fim, o prato de comida é apoiado nas pernas e torna-se testemunha de uma “família reunida”, assistindo o mundo, mas não fazendo parte dele. Outro dia surge e vem com ele outra verdade e outra mentira.
Contraste: sou a prova dele, sendo eu cético parecendo romântico.
Diferença: basta-me abrir a janela do quarto quadrado.

Meus olhos cá estão para serem motivo de chacota, de alegria, de gargalhadas ou até mesmo para você lembrar de enxergar os próprios olhos.

quinta-feira, agosto 10, 2006

Grito e Desabafo


Ela está diferente. Seus olhos não sorriem mais. Tudo está distante, seus sonhos e objetivos parecem não existir, provavelmente foram esquecidos ou enganados em alguma esquina.
Tudo o que pensas pode ser traduzido em apenas uma pergunta: Será?
Desacreditada está da vida, dos amigos, amores e rumores. Estremecida está, sente terremotos, abalos de sensibilidade na sua cabecinha sonhadora. Depara-se com a imagem de um herói e duvida dos seus feitos.
Desenganada, chora... Lágrimas escorrem da sua face lânguida, um tanto morfética. Pensa, exalta-se. Grita aos quatro cantos, pede ajuda. Um segundo se passa e novamente nada acontece.
Turbilhão de pensamentos, outro herói, outra história e tudo acaba do mesmo jeito. Será que aquele ser sonhador que eu conhecia desapareceu dando lugar para um ser cético, infeliz e opaco??
Não, isso eu não quero. Alguém pode ajudar??
Por favor, ela precisa de ajuda. Necessita acordar desse feitiço que desencantou a louca sonhadora para o mundo preto e branco, isso a faz sofrer, chorar, não porque acredita no amor, nos sonhos e nas pessoas e sim porque acabou sendo tomada pela realidade egoísta dos seres infelizes e sem amor. Crueldade e frieza é o que sente esse coração sensível e dolorido...

Será um desabafo ou um medo?

Socorro, não sei o que escrevo...
Perdida numa explosão de idéias, ideais...

Não mais sensata ou será que algum dia a sensatez fez parte da minha vida?

A única coisa que posso afirmar nesse momento é algo começa a mudar e não gosto disso. Mudanças doem, formar cicatrizes, nem sempre curadas. Ser humano medroso, não quer crescer, prefere deixar de lado as mais novas glórias, para viver de lembranças. Um belo museu eu daria, sempre saudosista, o passado é glorioso e o presente nada demais.
Catástrofes, todos os dias acontecem e nem sempre nos damos conta. Estou cansada das manipulações diárias, das chantagens emocionais e da falta de sinceridade. Por que as pessoas acham que não temos motivos para tristeza ou para o medo? Só porque somos crianças um tanto crescidas?
Não entendo isso... Esse nó necessita ser desatado... Os encantos não querem ser quebrados. Prefiro as surpresas, sempre. Gosto de mágicas, brincadeiras e risos. Problemas sempre terei, aprenderei a conviver com eles, um dia quem sabe consiga resolvê-los. Mas ainda pergunto, o que está acontecendo?

Não sei, não vi o causador das feridas. Desconheço os motivos. Uma crise psicológica, talvez...

A gente nunca sabe a verdade por traz dos fatos...

Máscaras caem e eu nem sei ao menos quem sou...

domingo, agosto 06, 2006

Vencido Ser...


Desde o início, eu já sabia que não daria certo. A consciência, voz imortal, sabedoria divina afogada em pensamentos humanos, avisava-me que seria assim: que meu destino era estar aqui hoje, sozinho a observar a Lua cinzenta que já vai alta no céu. O grande satélite e a folha em branco minhas únicas companhias. A teimosia alimenta-se de esperanças ilógicas e nos leva a pensar isso, imaginar aquilo, esperar e esperar, enquanto o veículo da vida se move desgovernado rumo ao inevitável.

Cruzávamos quase todos os dias e meus olhos de longe procuravam os seus, desesperados. Ela demorava uma eternidade para perceber-me a presença, e finalmente quando o fazia, a recompensa pela espera era o mais belo sorriso que um rosto humano jamais poderia expressar. Naqueles poucos segundos meus pensamentos confundiam-se, as palavras fugiam e eu nunca sabia o que dizer, o que fazer. Nos afastávamos e o depois era sempre doloroso, pois sua ausência deixava um vazio, preenchido apenas pela exasperante lucidez que fazia-me odiar a outrora falta de palavras.

Nos falamos poucas vezes, mas sua voz sempre foi diferente. As vogais e consoantes que lhe escapavam dos lábios, eram como borboletas coloridas que voavam e me enchiam as voltas, dando vida ao meu universo sem cor. Os momentos intermináveis em que estava sem ela, foram aos poucos se transformando em agonia insuportável, e eu já não sabia mais pensar, falar, ouvir, nada que não tivesse seu rosto, seus ouvidos, sua voz.

Vencido estava eu desde o começo. Nunca fui se quer uma aposta. Quando resolvi lhe entregar o que crescia em meu peito, o fiz por não suportar mais a dor, suspeitava que se com um bisturi abrissem-me o peito, pétalas de flor com seu nome escrito em sangue, meu sangue, saltariam pra fora, inundando o mundo. No momento em que falei as primeiras palavras, vencido estava e vencido estou, agora e sempre. Só, me resta a Lua, as poucas estrelas no céu e o papel em branco, rendido.

sexta-feira, agosto 04, 2006

....


Dias frios.Pessoas, momentos, lembranças. Acordar e saber que não tem ninguém te esperando, se preocupando não é muito bom. Sobram sorrisos, faltam abraços acho que vou trocar essa história por uma de criança, só assim pro mocinho se dar bem. Mais uma vez as palavras colocadas no papel não são um sinal de felicidade. Será que essas palavras vão encontrar um coração desavisado pra fazer sentido? Paro em frente ao espelho. Sorrio. E ele também sorri pra mim, um sorriso triste, cheio de perguntas, um sorriso de notas desafinadas. E só então me dou conta de que aquele sorriso.......
Sempre há tempo pra corrigir o que foi escrito.
Faltam sorrisos.........