Sonhos Platônicos

segunda-feira, março 13, 2006

O medo do Poeta..

O poeta olha a folha em branco à sua frente e esforça-se em imaginar suas intenções em palavras. Elas são o seu mecanismo de comunicação, seu aparelho celular universal que possui conexão direta com a alma dos seus leitores. Esse vínculo é essencial para que seja ouvido e entendido da maneira que ele deseja ser. No entanto, ele não quer facilitar o trabalho, essa nunca foi a intenção e é por isso que encontrar as palavras corretas é tarefa tão difícil. As palavras devem disfarçar o verdadeiro sentido, a verdadeira intenção, devem carregar seu real significado sem nunca deixá-lo à mostra, devem tramar contra a compreensão para que só leitores realmente especiais conheçam a verdade, que nada mais é que o próprio espírito do poeta.
O poeta teme entregar o ouro antes do tempo. Teme que como num clichê de filmes de ação, a poderosa arma “caia em mãos erradas”. Quando ele escreve, aquilo que diz é direcionado a alguém (ou alguéns) em especial. É como se o poema fosse uma carta aberta que pode ser lida por qualquer um e no entanto entendida apenas por aquele a quem é destinada. É uma mensagem cifrada cuja chave descansa na compreensão de apenas duas pessoas: O remetente e o destinatário.
Noite e dia o poeta passa escrevendo suas cartas cifradas, esperando ansiosamente que alcancem seu destino, e quando isso acontecer, que sua voz possa ser ouvida e entendida pelos ouvidos para os quais elas falam. A solidão dessas noites e dias é sua companhia, sua inspiração. É no solo árido da dor que cultiva as doces palavras de amor que um dia espera ter a coragem de enviar àquela que é a dona de todos os seus pensamentos. Enquanto esse dia não chega, é em sombras que mergulha essas palavras, escrevendo o seu amor quando escreve o mundo, a vida, suas verdades e suas mentiras. Codificando o amor em tudo o que diz, em tudo o que é.
O poeta é um grande covarde. Seu grande medo na verdade é o de não ser compreendido.