Sonhos Platônicos

sexta-feira, março 17, 2006

Voar...


Primeiro dia de aula, último ano de faculdade de engenharia e uma vontade danada de mudar de ares...

A janela aberta deixa entrar na sala um vento de início de outono, que vasculha as carteiras da sala fazendo voar papéis e transparências no retroprojetor. De novo. Aula depois do almoço após três meses de férias não é exatamente algo que aprecie muito. Lá na frente o professor parece empolgado com transistores, resistores, reguladores e mais uma série de outras dores. Meus pensamentos ainda não entraram na sala. Estão vagando lá fora, talvez sentados nos bancos do jardim da faculdade, conversando com os amigos que não via a algum tempo. Talvez em casa, ao computador ouvindo músicas novas, escrevendo o novo com as mesmas antigas palavras desbotadas. Talvez ainda mais longe. Em casa. Na minha casa, que guarda o que há de mais vivo no meu coração. Nos amigos que deixei pra trás, mas que estão sempre comigo, escondidos no bolso da camisa, bem junto de onde importa.

Sentado numa carteira encostada na janela minha vontade é de imitar Ramón Sampedro do filme Mar Adentro: Levantar da cadeira, limpar o caminho, pegar uma certa distância e num impulso pular pra fora. Sair voando, flutuando por sobre cabeças cheias de lógica e por vezes vazias de sensibilidade. Ver lá de cima as elevações do Vale do Paraíba, os carros e caminhões na estrada ansiosos em chegar a seus destinos. Chegar à minha cidade e ir direto àqueles que amo, fazer-lhes uma rápida visita. O suficiente para que saibam que mesmo tendo todos os lugares do mundo ao meu alcance, é com eles que quero estar. Nunca devemos perder uma oportunidade mesmo que pequena de demonstrar isso.

Quem me dera talvez voar no tempo par dar uma espiada no que tem lá frente. Uma espiada só não faz mal a ninguém.

O professor me pergunta alguma coisa que me traz de volta pra sala. Nem ouvi qual foi a pergunta, mas a resposta é não, quando deveria ser: “Não sei professor, estou mesmo precisando de um regulador pra me por nos eixos de novo. Pelo menos pra me trazer de volta dos sonhos”.

O vento fresco de início de outono entra pela janela derrubando a transparência no retroprojetor. De novo. Alguém oferece o estojo como peso. Transistores, Resistores, Reguladores, e tantas outras dores...

Aliás uma só: A Saudade.

ps.: Meu Deus é tão bom que nunca me deixa perder as esperanças...