- Você acha que estou ficando muito sério? - Sério? Como assim?
- Não sei... Você não acha que eu ando meio deprimido ultimamente?
- Não me parece. Mas porque você estaria deprimido?
- Às vezes me parece que o mundo todo perdeu um pouco da graça.
- Perdeu a graça? Como assim? Por que?
- Não sei. Não sei de nada. Ando desaprendendo tantas coisas...
- Nossa, o que aconteceu com você?
- Porque?
- Não sei. Você tá estranho...
- Estranho como?
- Distante... Não gosto quando você começar a falar essas coisas.
- Que coisas?
- Essas coisas estranhas... Essas viagens. Parece que de repente você virou uma outra pessoa que eu não conheço. Não gosto de pensar que não te conheço.
- Que isso, não... Não quero te deixar triste. É que a algum tempo já, ando me sentindo... Sei lá... Velho! Parece que a vida passou por mim e eu perdi o ônibus. Não consigo mais ver graça, sentido. É como se minhas emoções tivessem morrido entende? Não sei mais se eu sou feliz.
- Entendo... Mais ou menos. Calma aí. Chega mais perto que estou começando a ficar com frio.
- Ah... Assim tá melhor?
- Tá sim brigada. Mas me explica melhor. Como que isso aconteceu?
- Eu não sei. Eu simplesmente abri os olhos um dia e senti algo diferente. Você estava no banheiro tomando banho, sussurrava uma música que eu não lembro mais...
- Que música?
- Ah não sei, não lembro. Também não importa. Você parecia feliz e de repente eu senti uma necessidade de estar feliz também, mas não me sentia assim. Não entendia porque, mas simplesmente não sentia.
- Que estranho.
- Pois é. Acho que a vida ta perdendo a graça pra mim.
- Ei não fala assim. Você não tá mais feliz com a gente?
- Não! Não é isso! Eu amo você... É que sinto como se algo tivesse faltando.
- Você não respondeu a pergunta...
- Que pergunta?
- Você não tá mais feliz com a gente?
- Não tô mais feliz comigo mesmo. Com esse sentimento de que as coisas não provocam em mim a mesma emoção que provocavam a alguns anos atrás.
- ...
- Você tá rindo do que? Pára!
- Err... Desculpa. Mas é que você tá parecendo meu pai falando.
- Ah é? Legal você né?
- Desculpa. Vem aqui. Olha pra mim...
- O que foi? Quer rir mais um pouco dos meus problemas?
- Não... Pára... Já pedi desculpas...
- Sei...
- Sabe... Às vezes eu fico pensando...
- O que? Que eu sou um idiota?
- Não... É sério, presta atenção... Às vezes eu fico pensando... Será que a gente saberia reconhecer a felicidade se ela cruzasse na nossa frente? Se a gente topasse com ela de repente?
- ...
- Talvez a gente seja feliz e não saiba.
- ...
- ...
- Será?
- ...
- Me abraça?... Brigada... Apaga a luz...
- Boa noite.
- Eu te amo, sabia?
- É eu sei... Também te amo...